New Civilization News: A cidade da Máquina    
 A cidade da Máquina
1 Dec 2005 @ 15:06, by janos

Uma metáfora para o nosso mundo.

Neste lugar, há muito tempo atrás, uma máquina foi construída para suprir o povo de tudo que ele precisava para viver. Com essa invenção revolucionária, as pessoas foram parando de trabalhar. Tudo que tinham que fazer era manter a máquina trabalhando por elas. Assim, o número de pessoas foi aumentando extraordinariamente, já que agora era a máquina e não a natureza que determinava o limite de recursos. A máquina foi sendo constantemente aprimorada e aumentada junto com a população. Há algum tempo atrás era do tamanho de um prédio, mas hoje já se encontra cobrindo toda o subterrâneo da cidade e várias partes mais além.

Era a máquina que provinha educação, saúde, alimentação, moradia e tudo o mais para as pessoas, mas esses bens não eram distribuídos automaticamente. Quando havia menos pessoas e a máquina era menor, era fácil pegar o que se precisava e apenas em quantidade necessária. Porém, como a máquina cresceu muito, foi preciso que alguns trabalhassem na distribuição. E também, como os bens eram produzidos em quantidades absurdamente grandes, foi preciso que alguns outros trabalhassem na segurança do estoque, pois era uma coisa tentadora ver todos aqueles bens ali. A enorme quantidade num lugar só faz parecer que está sobrando, e é até instintivo que você tenha vontade de pegar um pouco mais do que o suficiente. As pessoas que trabalhavam na regulação do tipo de bens que a máquina devia produzir também se deixavam levar por essa ilusão, e iam usando as capacidades da máquina para produzir coisas que não são necessárias para viver, mas que servem de diversão para aquelas que já tinham o bastante. Além disso, havia uma grande discussão sobre qual seria a quantidade de bens que uma pessoa devesse consumir, pois alguns precisavam de mais, outros de menos. Alguns preferiam umas coisas e detestavam outras.

Era preciso também observar aqueles que ficavam longe da máquina, e que às vezes ficavam sem os bens. Como havia muita gente, isso era difícil de fazer. Foi preciso, então, criar um grande sistema que garantiria uma justa distribuição de bens, priorizando aqueles que ajudam a manter a máquina. Havia muita gente que resolvia trabalhar por si mesma. Mas trabalhar por si mesmo é uma coisa difícil de fazer, pois é preciso grande cooperação para fazer coisas grandes. Se as pessoas insatisfeitas começassem a se juntar fora da cidade, logo não haveria pessoas suficientes na cidade para justificar o aumento da máquina, e os controladores teriam que parar de produzir bens inúteis, mas que eles gostavam tanto. Por isso, foi criado um sistema que prendesse tais pessoas e tirasse seus direitos sem que elas saíssem da cidade.

Era preciso, também, que as pessoas gostassem mais dos bens produzidos pela máquina que dos bens produzidos por elas mesmas. Era preciso manter as pessoas recebendo apenas a educação da máquina, apenas a medicina da máquina, apenas as casas construídas pela máquina, a comida e o resto dos bens que a máquina produzia. Se as pessoas deixassem de ser dependentes dos bens que a máquina provinha, elas poderiam acabar deixando de expandir a máquina, e isso preocupava aqueles que controlam a máquina, pois eles têm acesso não só a tudo que é necessário para viver, mas a muito mais coisas que seriam impossíveis sem a expansão constante da máquina. As pessoas responsáveis pelo controle da máquina, portanto, criaram um sistema para que todas as pessoas dependessem da máquina tanto quanto eles, aumentando ainda mais a produção daquilo que não se precisa para viver, e às vezes até mesmo prejudica a vida, mas que é divertido. E assim, esses bens inúteis foram produzidos e distribuídos amplamente, até para aqueles que não tinham tudo que necessitavam para viver. Uma grande pesquisa foi feita para descobrir algo que fosse fácil de produzir e gerasse bastante dependência. Muitas coisas desse tipo foram produzidas.

A máquina, porém, tinha uma série de defeitos que foram surgindo com as sucessivas expansões. Defeitos considerados simples, às vezes só uma falta de ajustes. Mas com o passar do tempo esses pequenos defeitos foram se acumulando, de maneira que chegou a um ponto em que a máquina era um aglomerado infindável de problemas. Houve quem estudasse profundamente a máquina e procurasse nela os principais defeitos, até que um dia alguém descobriu um defeito tão fundamental que levaria inevitavelmente ao fim da máquina. Esse homem decifrou a máquina como ninguém, e o que ele descobriu se espalhou rapidamente. Logo as pessoas começaram a aceitar o fato de que em breve não haveria mais máquina, então se concentraram em pensar como seria o mundo depois da máquina. Mas a máquina não acabou até hoje.

O que aconteceu foi que os controladores da máquina levaram a sério o que o homem disse, e souberam contornar o problema. O defeito fundamental nunca iria ser reparado, mas com uma adaptação das pessoas e um contínuo desenvolvimento da máquina, ele nunca chegaria realmente a destruir a máquina. Como um balão cuja borracha vai sendo adicionada enquanto vai ele vai sendo soprado cada vez mais. Isto manteve a máquina até hoje, mas o seu potencial de destruição vai sendo aumentado, de forma que o dia em que o defeito não puder mais ser coberto, a explosão talvez destrua não só a cidade inteira, mas todas as cidades. E isto ocorrerá quando não houver mais peças para aumentar a máquina.

Por que eles não simplesmente param de usar a máquina, já que as desvantagens são tão óbvias e a catástrofe é iminente? Porque eles acreditam que usar a máquina não é uma escolha, é o DESTINO, respondeu o guia. Não há nada que os convença a parar agora, e nada que possa salvá-los também, exceto desistir da máquina. Porém a máquina é vista como o projeto mais importante e sagrado da humanidade, desistir dela está fora de questão. Gostaria que houvesse uma forma de colocar essa idéia pelo menos “dentro de questão” novamente, pois a máquina falhou no que quer que fosse seu objetivo, a não ser que ela tenha sido construída para realmente destruir tudo o mais rápido possível. Infelizmente, não há nada que eu possa fazer para convencê-los disso, portanto segui em frente, até a próxima cidade.

Janos Biro
Goiânia, 2002



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